
Renata Orlandi vive em Brasília, é médica pediatra e mestre em Ciências da Reabilitação. Médica da Secretaria de Saúde do Distrito Federal e docente da Faculdade de Medicina da Escola Superior de Ciências da Saúde – ESCS. Preceptora do Programa de Residência Médica em Pediatria do Hospital Regional de Sobradinho – HRS/DF. Membro da Diretoria da Sociedade de Pediatria do Distrito Federal no biênio 2020-2022. Tem experiência em pediatria hospitalar, desenvolvimento da criança e reabilitação infantil.
Renata veio de São Paulo. Da Mooca. Mas veio mesmo foi da vontade de ver o mundo. De ver sua casa no mundo. De se encontrar em cada parte do mundo. De ser um pouquinho do mundo. De o mundo ser um pouquinho dela.
Em Paris fez exatamente isso. Buscou nos carinhos que traz dentro de seu coração cada pedaço daquela cidade tão linda. Tão linda que só sendo linda pra ser Paris. Renata é.
Seu livro transforma Renata em Paris e vice-versa, nas pequenas coisas. Seu livro traz pequenas cores de Renata e de Paris. Cores que pouca gente consegue ver, só se tem atenção nos detalhes de si e do que está por volta.
Renata é isso. Os detalhes. As sutilezas. As doçuras. As tristezas. A matiz encantadora revelada de fora pra dentro e de dentro pra fora. Renata anda pelo mundo e o mundo, nas suas singelezas, anda no olho e na sensação fina de Renata.
Paris, de tantas cores e jardins, teve uma pequena cor a mais.
Renata considera a Arte como a forma mais afetuosa de expressão, por isso se arrisca no canto, na percussão e na literatura – escreve desde criança.
Nesse seu primeiro livro, aceitou o desafio proposto por um amigo, e escreveu uma história para cada dia de sua viagem por Paris.
(Adriano Rubim)

Prefácio
Há diferentes maneiras de viajar pelo mundo. A literatura é uma delas. Scherazade durante mil e uma noites contou histórias ao sultão; Marco Polo descreveu ao imperador Kublai Khan como eram as cidades conquistadas pelo império mongol; Jacques Le Goff nos convida a conhecer uma Paris em efervescência na Idade Média, como símbolo de vida cultural; Renata Orlandi nos leva a Paris por meio de seus olhos e seus passos como rimas de uma poesia.
O livro começa com a foto de uma janela aberta, a imagem de um céu azul e a Torre Eiffel ao fundo. O livro termina com a foto do céu azul de Brasília e um Ipê florido na Asa Norte. Entre um céu e outro, um espaço para o deslocamento da imaginação. Em seu livro, pode-se imaginar histórias particulares de pessoas num vagão de trem, numa feira, numa cidade, como se estivéssemos ali de braços dados com a autora. Renata não fala apenas de uma cidade feita de pontes e pedras, mas sobretudo da cidade das pessoas, povoada por hábitos, reações, vozes e silêncios. O tom narrativo do livro nos deixa diante de vários acontecimentos como os de um homem que usa sua chave de fenda, o sol que faz o calor aumentar, uma senhora de cabelos desgrenhados, ou de alguém que se jogou nos trilhos na frente do trem.
Noutro instante, a cena está repleta de postes com vasos de flores, que serve tanto aos turistas como para remeter às lembranças regionais da infância de alguém. As cores estão presentes também na mesa do café da manhã de um dia chuvoso, ou nos cabelos de uma mulher loura, ou de uma morena que a autora passou a observar. Quem é turista… observa… observa…
Mais do que provocar nossa imaginação, Renata Orlandi quer nos transmitir sentimentos.
Sabemos que o sistema literário é composto por três entidades: AUTOR – OBRA – PÚBLICO. O autor representa o valor estético do sistema literário; a obra representa o valor econômico e o público, os valores culturais. O autor, e aquilo que vai escrever com determinado valor estético, expõe consequentemente a sua identidade artística. A obra, o livro em si, possui valor econômico quando pensamos nos custos de sua produção e distribuição. O público carrega valores culturais, e é aquele para o qual se espera dar acesso à obra e ao seu respectivo autor. Renata Orlandi assume a intenção estética de causar uma sensação. A palavra “estética” vem do grego “aesthesis”, que significa sensação.
O livro, mais do que um diário de viagem, evoca, de nossa memória, as experiências que tivemos através dos nossos cinco sentidos. Flores e cores, aromas e sabores dos alimentos, o tato e o contato entre as pessoas, o som dos motores, das ruas, dos turistas.
A escritora escreve com detalhes expressivos. Esses são produtos do exercício da observação. A vontade de observar (quem escreve precisa ter essa vontade) está na base da criação de detalhes. Um detalhe expressivo é capaz de “dizer o todo”. Vejamos esta passagem: “Ela olhou para trás e reparou na moça magra que, embora parecesse muito resolvida pela sua atitude, demonstrava solidão”. Essa frase nos diz também sobre a técnica literária da autora, na medida em que ela não abre mão da OBSERVAÇÃO (para nos fornecer detalhes expressivos), da MEMÓRIA (para nos fornecer sensações) e da IMAGINAÇÃO (para nos fornecer uma história).
Deleuze dizia que estamos cercados por quatro instâncias: a “filosofia”: um filósofo cria conceitos; a “ciência”: um cientista aplica conceitos (pragmatismo); o “senso comum”: a opinião da pessoa em relação aos outros e às coisas está impregnada de opiniões alheias; a “arte”: o modo como a autora cria afeições e percepções é direto, com o vocabulário de uma conversa, sem perder o tom poético quando fala da fotografia da Torre Eiffel numa noite chuvosa: “embaçada pelas lágrimas”. Todavia, além de nos provocar sensações, a autora assume as suas: “Precisou ficar na escuridão total. Como se para apurar ainda mais seus sentidos”; “Ela pegou um livro de papel e se sentiu um ET”; “Por um lado, se frustrou e ficou triste”; “Resolveu fazer o que mais gostava, apreciar os jardins”. Ou quando escreveu uma carta a um vendedor.
Neste diário de uma viagem, Renata nos presenteia com fotos do cotidiano local. Se sua escrita transita entre o poético e o coloquial, para não camuflar a dinâmica da vida, suas fotos também adquirem este contorno.
Seu livro é literalmente uma viagem. Inclusive uma viagem ao nosso mundo interior.
FarlleyDerze